quinta-feira, 30 de dezembro de 2004

Krakatoa

Este blog faz aqui uma pausa no habitual nonsense para prestar serviço público.

Nestes dias de sismos e tsunamis recomendo a leitura do livro Krakatoa, de Simon Winchester.

São 400 páginas de leitura contagiante sobre o antes, o durante e o depois da grande erupção do vulcão Krakatoa, em 1883.

O livro é um misto de literatura de divulgação científica, de história dos descobrimentos e da presença dos europeus por aquelas paragens, e de relatos da época sobre o acontecimento catastrófico que afectou todo o mundo. Além de sismos e tsunamis de efeitos similares aos que estamos a ver agora pela televisão, houve também uma fabulosa erupção vulcânica, possivelmente um dos 5 maiores vulcões no mundo, pelas pistas que a geologia guardou. Lançou cinzas na atmosferas - tantas e tão alto - que avermelharam o pôr do sol em todo o mundo durante os anos seguintes.

É um relato empolgante dos acontecimentos, com um crescendo de climax construido muito lentamente.

Na pág. 154 o autor finalmente escreve: It began with a sudden trembling.
Na pág. 206 surgem os primeiros relatos de navios no estreito de Sunda: One master reported 'a vast eruptive column' on the 22nd.

A partir daí tudo se precipita: sismos, ondas de choque na atmosfera, tsunamis e vulcões.

As ondas de choque na atmosfera varreram o mundo várias vezes, ao longo de 15 dias (registadas inclusive em Coimbra e Lisboa). Os tsunamis tudo alagaram à sua passagem, riscando do mapa aldeias e vilas piscatórias, com o maior deles a atravessar os oceanos e a chegar, apenas como uma pequena onda, ao porto de Socoa, perto da estância francesa de Biarritz, em plena Europa. A onda viajou a 370 milhas por hora.
O estampido do vulcão foi ouvido a 3000 milhas de distância, na pequena ilha de Rodriguez, perto de Madagáscar.

Será este sismo o prenúncio de um novo acordar de Krakatoa? Recomenda-se o livro.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2004

Lista de Natal

Olá amiguinhos,

Faz por esta altura um ano, que redigi a minha pequena cartinha ao pai natal, essa mítica figura que ao lado de Estaline e Mao-Tse, partilha um carinho especial pela côr vermelha.

Este ano, tocado pela sensibilidade natalícia, queria pedir as seguintes prendinhas no sapatinho:

  • O fim da fome no mundo, o início da fome nas grandes metrópoles, e 18% da McDonalds;
  • A Marisa Cruz;
  • Três amigas da Marisa Cruz, à minha escolha;
  • A paz no mundo, e no governo;
  • Um frasco de gel da mesma marca que utiliza o Santana Lopes (estou profundamente convencido que aquele ar de lambidinho da vaca é mantido apenas duas vezes por ano, graças ao poder fixador do gel);
  • Um boi cobridor, com um período de repouso de 9 meses;
  • O José Castelo Branco, com um casaco de pele de vaca;
  • Uma sala acolchoada, para fechar o boi com o Castelo Branco;
  • O regresso do Eládio Clímaco ao Natal dos Hospitais;
  • O emprego da fulana do canal da tv cabo People and Arts, que anda o ano todo a experimentar os melhores SPAs do mundo (estupor);
  • Uma audiência com sua santidade, João Paulo II, para lhe levar uma Nossa Senhora em louça das Caldas, em que basicamente se puxa o terço e... errrrrrrrrr... enfim, um pequeno presentinho tradicional.

E é tudo. Feliz Natal!

E Jesus desceu à Terra...

...neste ano de 2004 e viu o quanto era conhecido e respeitado. E viu quanto a sua imagem e o seu nome tinham alcançado. E viu t-shirts com a sua imagem. E viu cruzes com a sua crucifixação. E viu canecas de chá com o seu rosto. E mais viu Jesus pois também havia dildos, e roupa interior, E tudo isto e muito mais viu Jesus, e algo o perturbou.

E então Jesus subiu de novo aos Céus e falou com seu Pai.

- Pai, a minha imagem tem um uso indevido.
- E que pretendes fazer, meu Filho?
- Quero 10% sobre todo o merchandising.

Que tenham um santo Natal.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2004

Histórias de encantar - Ali Babá e os 40 ladrões

Esta belíssima história das 1001 noites relata o modo de vida de antigamente dos árabes: ladrões, ladrões que roubam ladrões, irmãos de ladrões esquartejados, ladrões fritos em azeite. Enfim, poucas saídas profissionais…

Resumo:

Ali Babá, à socapa enquanto apanhava lenha, viu os ladrões a entrarem na caverna, com as palavras “Abre-te Sésamo”.

Experimentou ele próprio e começou a roubar os ladrões. Pediu umas bilhas ao irmão para melhor transportar as moedas. A mulher do irmão, astuta, besuntou o fundo de uma bilha com azeite, e quando Ali Babá a devolveu, ia lá colada uma moeda de ouro.

O irmão, à ganância, seguiu Ali Babá e descobriu o segredo. Assim que Ali Babá saiu, entrou ele. Nadou nas moedas ao melhor estilo “Tio Patinhas”, mas quando quis sair, não se lembrava das palavras mágicas. Experimentou “Abre-te cevada”, “Abre-te centeio”, “Abre-te trigo”, mas nada.

Chegam os ladrões, e descobrem o irmão de Ali Babá dentro da caverna. Como castigo, esquartejam-no ali mesmo à espadeirada, e deitam o corpo fora. Ali Babá, no regresso para roubar mais moedas, descobre o irmão, e lastimando a sua morte, decide que este merece pelo menos ser enterrado inteiro. Assim, paga 2 moedas de ouro ao sapateiro da povoação para coser o corpo do irmão.

Os ladrões, na procura de quem andasse a mostrar sinais anormais de riqueza, descobrem que Ali Babá pagou ao sapateiro o estranho serviço de coser o corpo do irmão, com 2 moedas.

Saltando alguns pormenores, a criada de Ali Babá deixa-os entrar na casa do dito Ali, mas pede-lhes para que se escondam dentro das bilhas. Apanhando-os desprevenidos, deita-lhes azeite a ferver na cabeça, matando os ladrões.

Ali Babá vive com a criada feliz para sempre.

Lições de moral na história:
- Ladrão que rouba a ladrão ou tem cuidado ou perde o irmão (ou pelo menos bocados dele…)
- A assassina do azeite, ou seja, a criada, vive feliz para sempre.

Histórias a publicar depois do Natal: A gata borralheira e Hansel & Gretel.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2004

Desabafo de um plebeu

Compareci recentemente numa noite de aniversário, pautada por pessoas chiques e da mais fina casta da minha região de origem. Vestido a rigor, com uns belíssimos jeans, uma camisa subtil e o casaquinho a la montra da Massimo Dutti, lá fui preparado para aguentar a malfadada festa. Ora bem, numa soirée como esta, os dilemas para o comum mortal acumulam-se paralelamente a outros sentimentos, nomeadamente adversidades gástricas a pratos chiques, reacções alérgicas aos cremes clinic utilizados pelas pessoas de mais de 87 anos, entre outros.

Alguém que me explique, sim, alguém que me explique, se a porcaria do tratado de Genebra ou se o famosíssimo tratado de Maastricht não convencionam o número de beijos na face utilizadas na normal saudação. Decidam-se… debruçamo-nos para o primeiro encosto de face, avançamos cautelosamente para o seguinte e ficamos de cara pendurada, como quem aprecia a proeminente caspa do nosso parceiro… ridículo. Outra situação chocante, é a necessidade de escolher cuidadosamente as expressões que se utilizam, uma vez que não estamos entre o nosso grupo de amigos. Sermos privados de pérolas gramaticais produzidas pelos mais vivaços de uma festa normal, como “As meninas do técnico são das melhores para vir aqui esgaçar o pescoço ao domingos”, ou “Esta dobrada faz-me uns gases de fazer inveja à Grande Nebulosa… e até me fazem ver estrelas”, é no mínimo criminoso.

Que fazer, quando um terço do cheesecake cai no chão? Dar-lhes cuidadosos toques com o pé até este se posicionar debaixo da mesa, ou olhar com desaprovação para a senhora condessa que estaciona estrategicamente à nossa frente? Que responder à senhora que nos diz “Aiiiiiiiii meu q’rido, estás tão grande… o que tu cresceste!”?? A nossa primeira reacção seria, obviamente, responder “Teve que ser… já não me queriam deixar entrar no cine-bolso para ver a Tracy Lords” ou “Desculpe minha senhora, está enganada, eu sempre fui assim… aiaiaiaiaiaiaiaiaiai, não andamos a tomar conta desse maroto do Alzheimer”.

Enfim…

terça-feira, 21 de dezembro de 2004

Histórias de encantar – Branca de neve e os 7 anões

Mais uma história ternurenta para a quadra natalícia. Apesar da expectativa levantada pelo título, não se trata de um “gang bang”. Isto tem mesmo história, mas vou-me cingir à parte da Branca de Neve ir parar à floresta.

Resumo:

A Rainha Má, perante as revelações do espelho mágico, decide matar a Branca de Neve. Chama um capataz de sua confiança e diz-lhe para levar Branca de Neve para bem longe na floresta, matá-la, e trazer o coração da rapariga como prova. O capataz leva a Branca, mas como era uma tipa boa como tudo, não a mata, sacrificando um veado, e levando o coração do animal à Rainha Má. O resto não tem muita história: anões, maçãs, um príncipe, e finalmente a Branca vive feliz para sempre.

De qualquer modo, sendo uma casa feita à medida dos 7 anões, nunca se percebeu onde dormia a Branca, ou se basicamente enconstavam as 7 mini-camas e era uma coboiada com a rapariga.

Histórias de encantar – O capuchinho vermelho

Em homenagem à época natalíca, aqui se conta a famosa história de um lobo que come humanos inteiros, sem os mastigar.

Resumo:
História de uma miúda que vai levar comida à avó, que tem uma casa na floresta. Entretanto, um lobo chega primeiro, e come a avó inteira. A miúda, possivelmente muito míope, olha para a cara do lobo mas pensa que se trata da avó, apesar da barba cerrada do animal (ou se calhar por isso mesmo…).
Mesmo assim, dúvidas se levantam, sobre os olhos, as orelhas, e finalmente a boca. O lobo farta-se da conversa e come a neta (no sentido literal e não pedófilo), também inteira, sentando-se à sombra de uma árvore, a digerir a refeição.

Chega um caçador, que num acto inesperado, mata o lobo, e abre-lhe a barriga com uma faca grande. Saem de lá avó e neta, ainda vivas.

A história é omissa nos efeitos dos sucos gástricos do lobo tanto na avó como na neta. Seria de supor que terão saído em carne viva, ensanguentadas, com as pálpebras comidas pelos sucos estomacais e cegas. Terão possivelmente ingerido alguns dos ácidos estomacais na tentativa de respirarem, queimando-se da boca à traqueia. Infelizmente, os pormenores perderam-se no tempo.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2004

Santana e o Terramoto

A Fátima está em condições de garantir que o terramoto que se sentiu hoje em Portugal, de magnitude 5,4 na escala de Richter foi causado por Pedro Santana Lopes. Santana Lopes tem uma ligação cósmica óbvia a terramotos nesta zona e este foi causado pelo distúrbio de energias sentido pelo Primeiro-Ministro com toda a crise política que se vive actualmente.

Quais as provas desta ligação? São demasiado evidentes, mas dado que há gente que é demasiado distraída, passo mesmo assim a enumerá-las.

Comecemos por analisar a ligação histórica de Santana Lopes aos terramotos na nossa zona, nomeadamente ao mais famoso e de maior magnitude de todos - o de 1 de Novembro de 1755.

Quantas letras tem "Pedro Santana Lopes"? Contem-nas: 17 letras.
Quantas letras tem "Pedro"? 5 letras.
Quantas letras tem "Lopes"? 5 letras.
Vejam bem: 17 letras, 5 letras, 5 letras. 17 5 5 - 1755, o ano do Terramoto.

Querem mais provas?
Santana Lopes nasceu em 1956. O Terramoto foi em 1755. Qual a diferença entre 56 e 55? Um. Em que dia foi o Terramoto? Um (de Novembro).

Mais uma?
"Pedro Santana Lopes", como já vimos, tem 17 letras.
"Terramoto de Lisboa" tem - adivinhem!... - 17 letras!!...

Para finalizar: quer "Pedro Santana Lopes", quer "Terramoto de Lisboa" têm 2 'e', um 'd' e um 'l'... Com estas letras escreve-se a palavra "dele". De quem é o Terramoto afinal? Dele. De Pedro Santana Lopes.

Passando agora ao terramoto de hoje - quais as provas da sua ligação a Santana Lopes?

Segundo os dados do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, o sismo de hoje teve uma magnitude de 5,4 na escala de Richter. 5,4. Quantos filhos tem Santana Lopes? 5. Quantos meses esteve no Governo como Primeiro-Ministro? 4.

O sismo deu-se às 14h16 de hoje. Somemos os números: 1+4+1+6=12. Quantas letras tem "Santana Lopes"? Exacto - 12!

Mais uma, para terminar: o epicentro localizou-se nas coordenadas 36º43' Norte e 9º76' Oeste. Somemos os números: 36+43=79. 9+76=85. Em que ano se licenciou Santana Lopes (em Direito)? Exacto, 79. Até que ano foi presidente da Comissão Política Distrital da Área Metropolitana de Lisboa do PSD? Correcto, 85...

Podíamos seguir, mas julgo que já são suficientes provas - se há um responsável pelo abalo sentido hoje, só pode ser um único: Pedro Santana Lopes...