sexta-feira, 26 de março de 2004

Ensaio sobre o pudor, ou, A Barbara Guimarães também caga

Parece haver na sociedade portuguesa um elevado pudor sobre as funções escatológicas normais do organismo.

Esclareço desde já do que falo - escatologia: do Gr. skór, skatós, excremento + lógos, tratado s. f., tratado sobre os excrementos.

De facto, choca-me que certas pessoas se coloquem a um nível tão alto que aparentemente... nem cagam. Um pouco ao estilo "a nobreza não caga, quando muito mija, e quando o faz é por graça. O povo sim, mija, caga, e peida-se com estrépito".

O povo também já interiorizou este complexo de inferioridade. Exemplifico. O Dr. Mário Soares tem ar de largar umas valentes postas, mas a sua excelsa esposa, a Dra. Maria Barroso, certamente não se peidará, e se cagar, será às bolinhas, tipo almondegas, por ser mais chique.
A questão afecta as classes sociais mas também não é pacífica entre os sexos. Passo a ilustrar. Uma senhora tem pavor de deixar a casa de banho a cheirar mal. Um homem, se puder, peida-se silenciosamente no elevador e sai, já com um incontido sorriso de orelha a orelha, com a antevisão dos estragos que a flatulência vai causar.

É uma questão de imposição puramente social. Uma criança de tenra idade faz o que tiver de fazer, em qualquer lado. É apenas a consciência da pressão social que irá condicionar o seu comportamento futuro, impedindo que na fase adulta se peide abundantemente num escritório ou em locais públicos. Esta pressão social leva que se pense que certas individualidades não se aliviam nem mesmo na intimidade.

Pois o Quarto Segredo revela-vos aqui, em primeira mão: a Barbara Guimarães também caga.

Sei que choca alguns. Porventura, excitará outros...

E revelação bombástica: todos o fazemos! É por isso que o papel higiénico ocupa tanto espaço de venda num supermercado.

Fica o esclarecimento feito.

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