quinta-feira, 26 de agosto de 2004

Intervalo para serviço público

Fazemos um intervalo no habitual nonsense deste blog para realizarmos serviço público, na sequência da recomendação do Portugal profundo:

Quem está a apreciar o recurso de não-pronúncia do socialista Paulo Pedroso no processo da Casa Pia é o desembargador Mário Manuel Varges Gomes, juiz de turno, no Tribunal da Relação de Lisboa, onde pertence à 3.ª Secção.

Se este juiz não der razão ao recurso da decisão da juíza Ana Teixeira e Silva de não pronunciar Paulo Pedroso, este nem sequer irá a julgamento.

O desembargador Varges Gomes foi membro-fundador e presidente do conselho fiscal da FPS - Fundação para a Prevenção e Segurança, desde a sua constituição em 1999 até à sua extinção em 2001, criada pelo secretário de Estado, e depois Ministro da Administração Interna, Armando Vara. Esta Fundação PS foi objecto, em Junho de 2001 de um relatório de auditoria do Tribunal de Contas, de um parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República em Janeiro de 2001 e, ainda, de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia da República (na qual foi ouvida a Inspecção-Geral da Administração Interna em Maio de 2001).

O juiz desembargador Mário Manuel Varges Gomes é casado com a vice-presidente socialista da Câmara Municipal de Portimão, Isilda Maria Gomes, que é também presidente da Comissão Política Concelhia do PS/Portimão e apoiante de José Sócrates.

Se o juiz Varges Gomes não pediu escusa do processo irá tomar, com certeza, uma decisão independente desses laços.


Num post de 19 de Agosto, o Portugal profundo apresenta na íntegra o recurso do Ministério Público sobre a não-pronúncia de Paulo Pedroso, Herman José e outros.

No recurso são apresentados dados muito concretos do processo. Na minha leitura de leigo, fico arrepiado de pensar que estas pessoas podem não ir a julgamento.

Se estiverem inocentes, qual o medo de ir a julgamento limpar o nome? Eu faria questão de ir.

quarta-feira, 25 de agosto de 2004

Um minuto sem bits.

Pela morte do blog Le Tasque.

A Tasqueira, que tantos pratos nos serviu, fechou a tasca.

Uma escrita agressiva, directa, com um humor particular, abandonou a blogosfera.

Muito se especulou sobre a Tasqueira herself. IMHO, que nunca a vi, devia ter umas boas mamas... vá-se lá saber que deturpações mentais e complexos freudianos podem levar a estas conjecturas... mas sem imagens, foi o cérebro dela que aprendi a apreciar.

Ganda maluka, um abraço para ti, e que um dia os Pastorinhos te possam convidar para um almoço, numa tasca à tua escolha.

terça-feira, 24 de agosto de 2004

Vá Mourinho, mostra a esses gajos que foste tu quem inventou o futebol

José Mourinho, treinador campeão europeu, agora ao serviço do Chelsea, já está a doutrinar a imprensa inglesa com o seu estilo carismático, como mostram estes excertos do Sportinglife.com:

Chelsea's unsmiling new Portuguese manager Jose Mourinho has demanded respect because he believes is already producing miracles at Stamford Bridge.

Mourinho sat through a 30-minute media preview of Saturday's Premiership clash with Birmingham without raising even a glimmer of humour or excitement.

Instead he launched into a ranting diatribe, criticising the state of the English game, his problems having so little time with the Chelsea players and the lack of credit he and his players have been given by the media.


Além destes comentários, temos também citações de Mourinho himself:

"I was taught to respect other opinions but at the same time my personality is not open to be influenced by critics or by opinions."

"I want to say one thing - I didn't ASK to come here."

"I was in a small country, beautiful in fact, trying to improve, and I became a European champion."

"Some English clubs came after me. I didn't go to to church and pray 'please take me to England'."

"Yet I am a European champion and, as that, I think I deserve a little respect - not much, just a little bit."

"But to play with the spirit, desire and motivation that my new players are doing I think this a miracle. Yes, a miracle."

Na verdade, sobre este tema de já estar a fazer milagres, temos de confessar que Mourinho veio pedir ajuda ao Quarto Segredo. Nós é que lhe dissemos: Não, pá! Tu consegues sozinho. Força, pá, vai lá zurzir no bifes, pá. Mostra-lhes que o cromo do Ferguson não é ninguém! E pronto, o rapaz entusiamou-se e disse aquelas coisas todas.

segunda-feira, 23 de agosto de 2004

Ignorância olímpica

O atleta Manuel Silva, que foi um desastre na sua eliminatória dos 3000 metros obstáculos, ficando 15 segundos atrás do vencedor, cuspiu veneno e acusações em todas as direcções, dizendo que treinava com ténis rotos e que tinha pago a deslocação a Atenas do bolso dele.

Alguém lhe deve ter dado um puxão de orelhas, porque o atleta lá apareceu umas horas depois, qual Madalena arrependida, a desculpar-se em televisão dos disparates que tinha dito.

O jornalista pergunta-lhe: "Então assume aqui a mea culpa?"
Responde Manuel Silva: "Não, não, eu assumo mesmo a culpa toda.", como se o latim mea culpa significasse apenas metade da culpa, "meia culpa".

Ao contrário de outros atletas, o Manuel Silva está na profissão possível - trabalho cerebral seria complicado, e portanto faz na vida uma coisa simples, que é correr em frente, seguindo as linhas da pista, e sempre atrás dos outros, para não se perder.

quinta-feira, 19 de agosto de 2004

Glória Olímpica, as usual...

Os portugueses continuam na mesma onda de sempre: honrosos cagagésimos lugares, que nas palavras dos atletas "são uma óptima experiência" e nas palavras dos comentadores da TV "representam o espírito olímpico de participação".

Não os censuro. Com um calor destes, não deve apetecer nada desatar a correr que nem um parvo pela pista fora... ainda por cima as medalhas só são banhadas a ouro.

Depois, o espírito olímpico anda deturpado. Faltam os desportos em que os portugueses são verdadeiramente bons. Se algum país conseguiu convencer o comité olímpico que "salto sincronizado da prancha de 3 metros" é um desporto de per se, não vejo porque outros desportos, em que os portugueses são claramente medalháveis, não podem ser desportos olímpicos. Aponto como exemplos, além do vulgar hóquei em patins, o emborcanço do cozido, o arroto em comprimento, e o coçanço do tomate sem fazer ferida.

Por último, lamento o desaparecimento de algumas modalidades tão interessantes como o "Tiro ao pombo vivo" dos jogos olímpicos de 1900, ou a "corrida de obstáculos com natação" também de 1900, onde os concorrentes tinham de trepar um poste, correr sobre uma fiada de barcaças, e nadar debaixo de outras tantas.

terça-feira, 17 de agosto de 2004

Dasse! Mas isto cheira a quê?

Recentemente, fui ao antro da cozinha oriental conhecido por "Supermercado Chen", ali ao Poço do Borratém, na Baixa lisboeta.

Além de toda a espécie de comida (?!) e bebida (?!?) que é impossível de perceber o que é, consegui descobrir as algas, o vinagre, o wasabi, o arroz e outros que tais para fazer sushi.

Comprei também gengibre às fatias, cristalizado, que recomendo vivamente. O sabor? Doce de início, agridoce a meio, e exoticamente estranho no fim.

Tudinho arrumado na mala do carro num daqueles dias de calor violento.

Ao final do dia, chego a casa, abro a mala do carro, e Daaaasssse!!

Ganda smell! Fónix! Fosga-se! Que fedor! "Estas merdas chinesas tresandam!" pensei eu.

Ainda procurei o frasco de vinagre de arroz, mas o dito estava inteiro.

Descobri então a melancia de 5 kgs, comprada na vespera e esquecida num canto da bagageira. Com as voltas todas, rachou e fermentou o dia todo. O líquido fermentado escorreu da melancia para a bagageira e a podridão da fermentação cheirava-se a metros do carro.

As repetidas operações de lavagem e limpeza ainda não retiraram todo o cheiro. Fica o alerta para a população em geral: Cuidado com as melancias - elas andem aí, e cheiram mal quando fermentam.

segunda-feira, 16 de agosto de 2004

Bébés... ternurinhas ou meros intestinos com cornetas na ponta?

Tenho um cão bébé. O indivíduo foi introduzido na minha residência, e o primeiro facto que constatei foi a quantidade de caca que uma coisa tão pequena consegue conter. Impressionante mesmo, as quatro alarves poias com que fui presenteado durante uma emocinante noite de doggysitting em que a constante da noite foi, para além das limpezas, a vigilância a todos os objectos que poderiam constituir uma possível tentação para brincar.

Ora, esta problemática é geral nos bébés... ou seja... amamo-los porque são ternurentos e queridos... e desesperamos, porque na realidade não passam de intestinos com cornetas na ponta. Há outras vantagens em ter um bébé. Entrar na Mango ou na Zara com uma criança é garantido que teremos dezenas de mulheres à nossa volta a querer ver, e a fazer algumas perguntas que bem respondidas até podem dar para uma rápida troca de números de telefone:
"Tão querido, é sua filha?"
"Não não... sou o tio solteiro dela... mas é a menina dos meus olhos... faço tudo por ela"
"Ahh, mas toma conta dela?"
"Sim, teve que ser, mas dá tanto trabalho... tenho que arranjar uma pessoa disposta a ajudar-me a tomar conta desta pequena ternurinha"
O resto já se sabe, do "ah e tal, número de telefone e que charme que a menina tem, e que faz logo à noite pois conheço um bar genial, e não não, não tem problema, posso deixar a bébé com a avó..."

O cão está lindo, continua a produzir excelentes exemplares de poias que guardo na memória com o maior orgulho, e se me deixarem entrar na Zara ou Mango com ele, vou averiguar se o efeito é semelhante a uma criança.

terça-feira, 10 de agosto de 2004

Problemática "Dr."

O português, na sua cagança típica de quem quer ser dono e senhor do mundo, e já agora como quem não quer a coisa, tirano de toda a galáxia, tem na fonte da sua essência o prazer de ser chamado por um título honorífico, normalmente associado à sua natureza profissional.

Quem não trata um médico por "Doutor" ou um engenheiro por "Senhor Engenheiro", está claramente a pedir uma expulsão da nossa sociedade. A Fátima debruça-se sobre a problemática do "Dr.", e analisa como esta expressão é usada:

- "Senhor Doutor" - Tipicamente usada quando alguém se dirige a um indivíduo ligado à medicina (pode ser o porteiro do médico, hoje em dia qualquer cunha serve), e é pronunciada com todas as letras, de uma forma clara e expedita, como quem pensa cuidadosamente para não dar um passo em falso, não vá o médico receitar um purgante ao invés das tão necessitadas pílulas para a garganta;

- "Sou'tor" - Expressão usada entre elementos com o mesmo título, e que se encontram ao mesmo nível (exemplo: 2 médicos, 2 administradores, 1 médico e 1 administrador, 2 marialvas universitários após um raid de tascas);

- "Doutor" - É o termo empregue pela secretária do indivíduo, quando se refere ao mesmo;

- "Shô'tour" - A expressão proferida pelo nosso "Dr." quando pergunta à secretária do outro "Dr." se ele está, ou quando algum "Dr." de um escalão superior fala com um "Dr." de escalão inferior...

... confusos?? Ora vejamos como ficaria uma conversa:

- Bom dia Dna. Isilda, o shô'tour está?
- Bom dia senhor doutor... vou ver se o doutor o pode antender...
- Obrigado dna. Isilda... diga ao shô'tour que tenho pressa...
- Pode entrar senhor doutor, o doutor vai recebê-lo agora.
(...)
- Olá sou'tour, como vai?
- Ora viva sou'tour, como vai o meu caro amigo?
- Tudo bem... olhe, falei com o nosso presidente sobre aquele assunto e disse-lhe "Senhor Doutor, precisamos de firmar as condições do negócio o quanto antes", ao que ele me respondeu prontamente "Shô'tour, não tem com que se preocupar, o fax já seguiu"

quinta-feira, 5 de agosto de 2004

D. Lopes, o tunelador.

E corria o ano de 2001 quando o povo vestido de fato de treino votou nas excelentíssimas eleições autárquicas do Reino, e para surpresa de muitos e desgosto de outros que se sentiram à toa, D. Santana Lopes venceu a mui emérita Câmara de Lisboa.

E D. Lopes tinha feito uma mui extensa lista de promessas, algumas pespegadas em cartazes de mau gosto e às avessas, e assim que foi eleito, sentiu a pressão de mostrar trabalho feito, e para desgraça de muitos e alegria de poucos, à bruta e sem maneiras, avançou com o túnel das Amoreiras.

E túnel esse, sem que alguma luz lhe viesse do fundo, mostrou-se de um mau agoiro profundo, pois muitas pedras se levantaram contra D. Lopes, que sempre se esgueirou aos saltos e aos pinotes, até fugir para o lugar de primeiro ministro do Reino, deixando na Câmara um seu braço direito, e sobre isso muitos disseram: - mais valia um coração ou um fígado, pois braços tinha ele dois.

E dos que atiraram pedras destacou-se um cabrão d’hum advogado, que procurou fama sem ser honrado. E do advogado se fala agora.

Pois dizia o cabrão do advogado que faltava um papel, e essa falta era o grande senão do processo do nosso túnel. E tanto chateou e tanto andou, que a porra do túnel encravou. E ficou hum buraco sem remédio nem cura, que a pharmácia não estava à altura.

E o cabrão do advogado, que mais cedo se podia ter levantado, falou alto e gritou, e muitos jornais e juízes ouviram o que arrotou. E assim conseguiu fama na praça, à custa de um túnel de má raça.

E do cabrão do advogado pouco mais se soube, e espera-se que assim continue, até que alguém a língua lhe roube.

E com este pedaço de má prosa me despeço por hoje com a palavra rosa (para rimar…)!

E D. Lopes? Pois…

terça-feira, 3 de agosto de 2004

Mais um crente, uma alma gémea no nonsense

Amigos, devo dizer que tropecei num novo blog, de seu nome Irmã Lúcia, que partilha com o Quarto Segredo algumas afinidades, ao nível do nonsense e da ligação à Fátima, mesmo que o postador de serviço não o saiba.

Transcrevo na íntegra um dos posts, para perceberem o estilo:

Depois de auscultar a habitual fiada de lamúrias no Jornal de Domingo - a porteira ofendida, a idosa acamada, a criança abusada, o meliante algemado, o cão estropiado e o gato sarnento - surge, enfim, o ponto alto da noite. Marcelo oferece um folar de Valpaços a Júlio Magalhães:

- Tome lá, Júlio. Espero que goste.
- Ó professor, muito obrigado. (risos). O que é? Um jogo?
- Não vale a pena chocalhar ao ouvido. É um folar de Valpaços, Júlio.
- Pensei que fosse para comer mas agradeço-lhe na mesma, professor! Vou pousá-lo aqui assim, ao pé desta lembrança que trouxe para si…
- Mas… mas é um bolo de noiva?!!
- De sete andares.
- Onde é que você arranjou isto?!
- Foi no casamento de um amigo. Aproveitei o brinde e enfiei-o no porta-bagagens.
- Você é único, Júlio. Já agora, isto também é para si… um leitão da Bairrada.
- Mas está vivo!
- … e aqui tem a laranjinha.
- Obrigado, professor. Olhe, já agora aproveito e dava-lhe uma coisa que aqui tenho… Ora aqui está ele… um pato!
- Vivo?!
- É verdade, professor. E tem também este frasco.
- Um pato vivo e um frasco vazio, Júlio? Não estou a perceber…
- Para fazer paté, professor.
- Mas que belíssimo presente, Júlio! E agora, se ainda tivermos alguns segundos, tenho aqui… Upa! Aqui está ela… uma cabeça reduzida da América do Sul.
- Ena. Uma cabeça reduzida, professor…
- Não tem nada que agradecer, Júlio.
- Ora essa. Por acaso tinha aqui um desfibrilhador… Ah, cá está ele!
- Obrigado, Júlio. Nunca se sabe quando é que nos faz falta um. (risos)
- E foi assim o Jornal de Domingo. Professor, obrigado mais uma vez…
- Obrigado eu, Júlio.
- Resta-me então marcar encontro com os telespectadores para daqui a uma semana. Tenham uma boa noite e até Domingo!