quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Casa nova - Parte 2 - A escritura

Desilusão! Desilusão foi o que senti com a escritura! Dias a fio a fantasiar com o momento da escritura e afinal não passa de um fiasco. Que desgosto.

Após ver uma conservatória que em tudo se assemelha a um crematório, achei que no mínimo o local de uma escritura poderia parecer-se, vá lá, com um jazigo. Não. Nada disso. A sala de espera é idêntica à de um hospital, com a diferença que não cheira a éter, as revistas datadas foram substituídas por publicidade a produtos bancários e as enfermeiras roliças por um segurança de cabelo espetadinho graças a vários frascos de gel.

O momento da escritura foi um fiasco. Um senhor notário (falavam do Senhor Doutor Notário como se fosse Deus himself) leu uma série de prosas bem escritas, toma lá dinheiro, dá cá chaves, felicidades e cumprimentos lá em casa e pronto... já está.

Então e a música de fundo? Sempre imaginei assinar a minha escritura ao som da banda sonora do filme "Momentos de Glória" e a única coisa que ouço é o irritante pigarrear do Senhor Doutor Notário? Nem fanfarra, nem majoretes... nada! Chego à rua não tenho ninguém a felicitar-me e quando arranco no meu carro nem uma lata presa ao pára-choques, com vários cartazes a dizer "Proprietário de Fresco"! Miséria!!!!

terça-feira, 28 de novembro de 2006

Inundações

Impressionante! A chuva e as cheias que inundaram Portugal têm assumido proporções consideráveis, mas o que acho mesmo impressionante é o facto de existir sempre alguém possuidor de uma embarcação em qualquer terrinha que tenha sido inundada.

Pode até ser uma terriola no interior de portugal, no meio de um planalto e com um rio apenas a 85 Kms, lá vemos no noticiário um senhor com um ar infeliz, no seu barquinho a remos. A inundação é na Beira Interior? Lá está o senhor de ar miserável no seu barco a remos. Inundou Óbidos? Ei-lo, a remar triste e com ar de sofredor rua acima. Por mais improvável que pareça poder existir uma embarcação na localidade inundada, o que é certo é que existe sempre um indivíduo com um ar pesaroso a remar na sua embarcação. Agora que penso melhor, acho que qualquer director de reportagem dos telejornais tem avençado um senhor de barquinho a remos, só para aumentar o drama imposto na peça.

Mas pergunto-me eu: uma vez que não tenho embarcação, no dia em que a minha terrinha inundar e a água subir uns 3 metros, como é que faço para sair de casa? Num colchão de praia que ainda deve haver perdido algures nos armários? Encho vários sacos de água quente com ar e improviso uma jangada? Espero que o senhor com ar infeliz passe à minha porta no seu barquinho a remos?

Dilemas...

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Give it to your wife

É um novo conceito de marketing, mais directo e simples para homens. A marca diz imediatamente – lavagem?, isso é com a tua mulher, pá. E isto é o suficiente para gerar o ímpeto de compra num homem. Quase dá para ler o balão de pensamento dos clientes ao lerem a etiqueta: “ahh, já percebi isto da lavagem, é simples, pois, nada que enganar, as instruções são claras, vão estas calças.”



Isto não resultaria com uma mulher. Faz parte das diferenças intrínsecas entre os dois sexos. Nunca um Suzuki Vitara, reconhecidamente um veículo de gaja, terá uma placa no stand a dizer: “Mudar pneus: deixe isso para o seu marido, é o trabalho dele”.

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Casa nova - Parte 1 - O serviço

A compra de uma habitação é sempre um passo importante na vida de qualquer pessoa, ainda mais quando é a primeira casa para a qual temos que pensar em tudo a partir do zero.

Econtrando-me eu nessa situação, cedo descobri que as casas são inexplicavelmente construídas sem tudo o que devem ter. Faz algum sentido comprar uma casa a estrear e não vir sequer com um piaçaba? É normal comprar uma casa e nem sequer trazer colheres de pau, panos de cozinha, ou candeeiro na despensa? Claro que não, mas foi o cenário com que me deparei. O pânico... o horror... onde na vida se compram piaçabas? Há benchmarks de qualidade para o funcionamento do piaçaba? E colheres de pau? A Proteste já se pronunciou sobre as várias marcas? Há sequer marcas de colheres de pau?

Com o objectivo de denunciar todo este escândalo do mercado imobiliário português, proponho-me apresentar periodicamente um conjunto de reflexões sobre o que é verdadeiramente equipar uma casa nova.

Como se aproxima a data da mudança, comecei a ficar preocupado por não ter mais do que uma estante de livros e, vá lá, um candeeiro de mesa de cabeceira, pelo que resolvi começar por comprar o serviço de pratos. Porquê? Achei que era o mais simples... e claro que estava errado.

Comprar um serviço, pensava eu, deveria ser extremamente linear. Escolhíamos a colecção (sim, é muito chique comprar serviços de uma determinada colecção) e pronto, mandava-se embrulhar o kit para levar. Não, desenganem-se naifs desta vida! Comprar um serviço é um verdadeiro pesadelo!! Qual a colecção? Boa escolha, mas olhe que esta colecção tem variantes, quer tudo igual ou vai misturar? Quantos pratos? Saladeiras, vão? Das grandes ou pequenas? E travessas? Temos 132 tipos de travessas diferentes. Quantas e quais vai levar? Chávenas de café, vai querer? Concerteza, e de chá? E leite? Claro que há diferenças entre as de chá e leite... e pratos grandes? E de sobremesa? E de fruta? E sopa?

...

Juro que ainda hoje olho para as actuais prateleiras de loiça da casa onde vivo e a vida me parece muito mais simples do que naquela loja do demo, onde fui bombardeado com as mais variadas abordagens de escolha de loiça. Ainda fiz um esforço para imaginar uma belíssima refeição em cada prato que me apresentavam, mas a partir do momento que, desgastados pelo massacre da loiça, começamos a imaginar o petit gateau nas chícaras de café e que saboreamos o chá na saladeira média percebemos que a tarefa não é fácil!

Orgulhoso da minha aquisição, umas belíssimas peças de uma conhecida marca, partilhei com umas amigas decoradoras a minha selecção. A resposta profissional? "Pois, o Modelo e Continente também têm coisas muito giras"... obrigadinho, da próxima vez estarei mais atento à "Dica da Semana" do Lidl

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Corte de cabelo... again

Enquanto habitante de uma grande cidade, desde que comecei a trabalhar que tenho sentido as agruras de encontrar um barbeiro à moda antiga e que pratique um horário de trabalho compatível com o meu. Como tal tarefa é praticamente impossível, estou resignado aos "barbeiros" de centro de comercial, sobre os quais aliás já me pronunciei aqui em tempos idos.


Bom, já em estado de desespero capilar, tive mesmo que ir cortar o cabelo. Como para mim os centros comerciais são todos iguais, dirigi-me a um que tinha um cabeleireiro e lá fui para o suplício da noite!


Take 1 - O inquérito
Senhora do balcão: "Boa noite"

Eu: "Boa noite, cortam cabelo a homens"

Senhora do balcão: sem resposta, faz-me um olhar gélido

Eu: "Ah... errr... pois claro, então era para cortar, se faz favor"

Senhora do balcão: "Vai fazer mãos?"

Eu: a julgar que ela tinha perguntado "o que vai fazer com as mãos" "Bom, eu... er... depende... ainda não pensei muito nisso"

Eu: percebendo a pergunta e a estupidez da minha resposta "Ah não não, é só mesmo cabelo" (macho que é macho não faz essa coisa das mãos... ou pelo menos sem um momento de mentalização precedente)

Senhora do balcão: "Tem preferência?"

Eu: com muita vontade de dizer "sim, aquela senhora loura que está ali sentada, mesmo sendo cliente, não me importo" "Não, é o que vier"

Take 2 - A lavagem
Sou conduzido para uma cadeira por uma exótica cabeleireira. Sento-me. Ao meu lado, duas moças do elenco dos "Morangos com Açúcar" olham-me de esgelha... ajusto a gravata, não quero destoar e dar ares que não apareço frequentemente nas revistas cor de rosa. A cadeira automaticamente reclina-se e começa um intenso processo de massagens.


Ahhhhhh!!... usufruo da massagem, enquanto umas mãos começam a massajar-me o couro cabeludo. Nisto, pensando eu que já sabia onde iria passar todas minhas próximas noites, ouço uma voz grossa e gutural dizer-me "Boa noitxi sinhô, vamo relaxá p'a lavá o seu cábêlo?"


Mas... mas mas... então onde se meteu a exótica? De onde saiu este marmanjo? Onde é que os escondem? Senti-me ludibriado. Pelo sim pelo não confirmei que o que me estava a massajar as costas era mesmo o mecanismo da cadeira!


Take 3 - O corte:
Um corte normalíssimo. À minha frente, o dono do estaminé, um tal de "Moreno", mantinha uma amena cavaqueira sobre signos com uma cliente . Mantive-me calado, não fosse o responsável pelo meu corte lembrar-se de lançar para o debate temas efeminados.

Findo todo este processo, grandes agradecimentos, grandes amigos, as "Morangas com Açúcar" a dizerem-me adeus (ter-me-ão confundido, ou ficaram simplesmente contentes por me ir embora?), paguei por um corte o equivalente a quatro cortes na minha terrinha!

Que saudades dos barbeiros à moda antiga!

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Peixe podre

A 7 de Novembro de 2006, o Vietname foi admitido na OMC (Organização Mundial do Comércio). Como tenho um amigo a passar lá as suas férias nesta altura, acho que vou aproveitar para lhe pedir para trazer um frasquinho do famoso (?!??!) condimento de peixe podre. E um prisioneiro de guerra, se estiverem baratinhos...

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Cobradores Eunucos

Diz esta notícia no Portugal Diário, que uma cidade na Índia está a recorrer a eunucos para realizar a cobrança de impostos aos devedores de forma original.

Basicamente e citando a notícia, "estes cobradores apresentam-se vestidos com saris (trajes tradicionais indianos) coloridos, cantando e dançando ao som de tambores. Andam de loja em loja e pedem aos donos que paguem os impostos municipais em dívida".

Quanto a isto só tenho uma coisa a dizer: se a moda pega, se de facto este modelo de negócio se expandir para o resto do mundo, desejo muito boa sorte aos Cobradores de Fraque portugueses, pois francamente vão precisar dela para responder às expectativas do mercado! Antecipa-se uma forte expansão do negócio de capador, com importantes alianças estratégicas com os Cobradores Eunucos de Fraque!

O Natal é quando o Homem quer, ou quando os comerciantes de Lisboa quiserem

Reparei que andamos pela rua e começamos a ser bafejados com todo o tipo de motivos natalícios: enfeites, iluminações, bonecada alusiva ao pai natal... enfim, uma beleza! Claro que tudo isto seria perfeitamente normal se não estivéssemos no início de Novembro.

Mas o que é isto? Como é que devo entender este fenómeno? Deverei esperar, em finais de Dezembro, cartazes e promoções alusivas ao dia dos namorados? Em Janeiro, deveremos começar a ver mascarados na rua a preparar o Carnaval (malta da Nazaré, escusem-se de comentar esta parte)? Em Fevereiro deverei encontrar ovos da páscoa nas montras da pastelaria? Mas afinal, qual o prazo estipulado para regular a preparação de épocas festivas?

É que se a moda pega, qualquer dia até os fiéis do Islão verão o seu Ramadão antecipado um par de meses, e é vê-los caídos pelos cantos, perfeitamente esfaimados, às custas de um valente jejum de três meses! Sim, enquanto que os cristãos rebolam bem anafadinhos, às custas de andar a comer perú durante os dois meses natalícios!

Vejo apenas uma vantagem em antecipar um mês os preparativos de Natal: propôr à RTP um Natal dos Hospitais diário, onde cada dia seria num hospital diferente, sempre com o Eládio Clímaco a fazer o que melhor sabe fazer, ser ele próprio! (Eládio, ficas a dever-me uma... publicidade destas não é todos os dias)

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Os desejados caminhos da ciência

Manhã... neblina... um frio ligeiro que teima entorpecer os músculos. O organismo pede insistentemente um café. De forma hesitante acedemos!

Uma máquina sem idade debita um líquido escuro dentro de um copo que nos desanima... as manhãs outonais são no mínimo decadentes.

Rumamos para a sala de trabalho enquanto pensamos na vida, de copo na mão, onde nos aguarda um sem número de afazeres. A vida, esse momento trágico da existência de um ser no qual, empiricamente, enquadramos perfeitamente a dicotomia de um... RAISPARTA, MAS QUEM É QUE DEIXOU OS CABOS DE REDE NO CHÃO? HEIN???? UM GAJO TROPEÇA EM TUDO... MAS O QUE É ISTO???? É PRECISO DESPEDIR ALGUÉM?

Café... uma gravata cheia de café! Bonito serviço... hein meus meninos informáticos... um belo de um cabo estrategicamente colocado no chão apenas para, e sem sombra de dúvidas, fazer com que moi même tropeçasse e espalhasse uma bela mancha de café na gravata.

Bonito...

... nem Chagall conseguiria melhor composição de brancos, castanhos e vermelhos.

À noite, a lavandaria aguarda-nos com aquele ar de... lavandaria. Quando entregamos a gravata, uma pseudo-interessada empregada mantém um diálogo profundamente inspirado na Engenharia da Limpeza de Gravatas Borradas Com Café Matinal:

Ela - "É café?"
Eu - "Pois claro..."
Ela - "Tinha açúcar?"
Eu - "Pois sim..."
Ela - "Ui!"
Eu - "Ui?"
Ela - "Hummmm..."
Eu - "É grave, doutora?"
Ela - "É... muito..."
Eu - "Mas... tem recuperação"
Ela - "Pouco provável"

Resumindo - Conseguimos mandar um homem à lua... dominamos oceanos, vulcões, céus... conseguimos explicar o que na vida foi o Big Bang... conhecemos estrelas e constelações (pelo menos alguns de nós)... inventamos coisas maravilhosas como a electricidade, a medicina, a botânica... curamos doenças... inventamos vírus...

...

... mas não há um estupor que descubra como se tira nódoas de café com açúcar de uma mísera gravata?

Senhores cientistas, respondam ao meu apelo. Esqueçam lá a história do aquecimento global e outras palermices... por favor... façam com que a próxima edição da revista "Science" divulgue um paper de como tirar nódoas de café com açúcar de gravatas!

(gosto mesmo do raio da gravata)