quarta-feira, 22 de dezembro de 2004

Desabafo de um plebeu

Compareci recentemente numa noite de aniversário, pautada por pessoas chiques e da mais fina casta da minha região de origem. Vestido a rigor, com uns belíssimos jeans, uma camisa subtil e o casaquinho a la montra da Massimo Dutti, lá fui preparado para aguentar a malfadada festa. Ora bem, numa soirée como esta, os dilemas para o comum mortal acumulam-se paralelamente a outros sentimentos, nomeadamente adversidades gástricas a pratos chiques, reacções alérgicas aos cremes clinic utilizados pelas pessoas de mais de 87 anos, entre outros.

Alguém que me explique, sim, alguém que me explique, se a porcaria do tratado de Genebra ou se o famosíssimo tratado de Maastricht não convencionam o número de beijos na face utilizadas na normal saudação. Decidam-se… debruçamo-nos para o primeiro encosto de face, avançamos cautelosamente para o seguinte e ficamos de cara pendurada, como quem aprecia a proeminente caspa do nosso parceiro… ridículo. Outra situação chocante, é a necessidade de escolher cuidadosamente as expressões que se utilizam, uma vez que não estamos entre o nosso grupo de amigos. Sermos privados de pérolas gramaticais produzidas pelos mais vivaços de uma festa normal, como “As meninas do técnico são das melhores para vir aqui esgaçar o pescoço ao domingos”, ou “Esta dobrada faz-me uns gases de fazer inveja à Grande Nebulosa… e até me fazem ver estrelas”, é no mínimo criminoso.

Que fazer, quando um terço do cheesecake cai no chão? Dar-lhes cuidadosos toques com o pé até este se posicionar debaixo da mesa, ou olhar com desaprovação para a senhora condessa que estaciona estrategicamente à nossa frente? Que responder à senhora que nos diz “Aiiiiiiiii meu q’rido, estás tão grande… o que tu cresceste!”?? A nossa primeira reacção seria, obviamente, responder “Teve que ser… já não me queriam deixar entrar no cine-bolso para ver a Tracy Lords” ou “Desculpe minha senhora, está enganada, eu sempre fui assim… aiaiaiaiaiaiaiaiaiai, não andamos a tomar conta desse maroto do Alzheimer”.

Enfim…

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