Por azar, ontem tive de ir a um sítio chamado “Quinta do Conde”, urbanismo típico da margem sul do Tejo.
Primeiro, aquilo foi difícil de encontrar, porque eu nunca me entendo com aquelas zonas. Mas encontrado o sítio, lá tratei do assunto, e fui lanchar ao que parecia ser uma pastelaria normal.
Eu devia ter suspeitado, porque aquilo chama-se snack-bar, e não pastelaria. Snack-bar, essa grande invenção portuguesa que ninguém sabe verdadeiramente o que é. Entre uma pastelaria, um café, um restaurante e um bar, situa-se o snack-bar, esse híbrido de geometria variável, que pode pender mais para o lado pastelaria, para o lado café, para o lado restaurante, para o lado bar, ou para lado nenhum dos lados, como era o caso.
À entrada, o cheiro intenso a torresmos acabados de fazer devia-me ter alertado. Mesmo assim, avancei, enquanto ouvia a voz roufenha do dono a dizer “por semana, vendo aqui 30 a 40 litros de vinho”. Pedi 2 gelados para os miúdos, e pensei no que havia de pedir para mim. Em qualquer café ou pastelaria, um galão e uma torrada seria um pedido normal, mas ali, naquele snack-bar, algo menos que uma sandes de courato seria coisa de larilas. Arrisquei, pedindo uma água com gás e sabor a limão, fazendo um ar de enorme desprezo, como quem diz, eu emborcava aqui e agora umas 3 ou 4 cervejolas bem fresquinhas, e coiso e tal, mas afinal é mesmo uma aguinha com sabor a limãozinho.
Pedi uma torrada. Não temos. Ahh, então se calhar um bolo qualquer. Pode ser esse mil-folhas, que está aí ao lados dos torresmos.
Enquanto eu comia, o dono fazia os seus telefonemas. “Tens uma carrinha pá? Preciso de ir buscar a máquina. Depois dou-te aquilo. Sim, o combinado. Não te preocupes, tudo seguro. Não há espinhas. Sim, levo aquilo e dou-te. Tens tudo do teu lado? Tá, tá, ok.”
Seguiu-se mais um par de telefonemas deste género. Depois, ele agarra a empregada brasileira dos seus 40 anos e ela diz “tenho uma vida disgraçada, pô! Cê tá bebendo di novo todos os dia? Tinha prômetido qui esti ano era diferentchi!” Ele tentava mudar de assunto enquanto lhe dava beijos no pescoço.
Paguei e saí. Pelo entusiasmo com que ele estava, pareceu-me que ia precisar das mesas…
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Eta cafezinho amoroso, pô!
escrito por Blitzkrieg @ 11:48
2 comentários:
Devias ter experimentado os torresmos pá... num sítio desses, pedir um mil folhas, é caso para dizer que as folhas ainda eram papiros.
Já agora, que tal estava o bolo?
O mil folhas sabia menos a torresmos do que eu imaginava - afinal, o café (snack-bar) inteiro tresandava a torresmos.
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