segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

Tuga series (1)

Inicio uma série de posts, que surgirão de forma desordenada, sobre o Homo Tuga, nas suas diferentes estirpes.

Queria hoje apresentar um ser que talvez já esteja extinto - o Homo Tuga Gasolinensis (conhecido por HTG).

Nos tempos anteriores a 2004, os preços dos combustíveis variavam administrativamente, mesmo que apenas o preço máximo.

Ora isto dava origem a um hábito curiosa da criatura - antes de cada aumento, era ver o HTG a fazer filas de 1 hora, às 10 da noite, para atestar o tanque da viatura. A 2 cêntimos de aumento, vezes 30 litros, talvez ganhasse 60 cêntimos com a esperteza. O suficiente para um café.

As televisões já conheciam a criatura, e as entrevistas in loco eram um must irritante. Aproveito para partilhar aquela que foi para mim a melhor.

Depois de uma redução de 1 cêntimo no preço, sai a jornalista novata à rua e, não podendo perguntar às pessoas se estavam de acordo com a descida (resposta óbvia...) perguntou ao primeiro que apanhou se estava de acordo com a variação dos preços.

Ora isto foi o suficiente para baralhar o desgraçado.

- Tá mal! Então, isto tá sempre a mudar?!
- Então o senhor não concorda?
- Pois, então, uma pessoa assim, nunca sabe.
- Então não está de acordo com esta descida de preço em 1 cêntimo?
- Késsdzer, pois... então... tá mal, pá, késsdzer, tá a ver, isto não pode andar sempre a mudar. O governo, pois, também assim não dá - uma pessoa chega aqui, e é assim?
- Mas não gostou da descida de preços?
- Késsdzer, é bom que baixe, mas, tá a ver, uma pessoa depois, não é, e já não sabe nada, não é? Tá a ver? Eu... késsdzer, eu... é o que acho...

Este momento televisivo fechou com a jornalista a dizer qualquer coisa sem interesse, enquanto o Homo Tuga Gasolinensis, em fundo, olhava para o lado (para os amigos?) e gesticulava com cabeça e mãos, como que a dizer "Estive bem não estive, késsdzer, disse o que pensava, não é?"

A liberalização dos preços dos combustiveis valeu a pena nem que fosse apenas para acabar com as filas para a gasolina à noite, e com estas entrevistas.

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