segunda-feira, 27 de outubro de 2003

Barba e cabelo, por favor

Que saudades dos antigos barbeiros de aldeia. Daqueles que a malta entra e tem garantidamente três assuntos para falar – Bola, miúdas e carros.

Antigamente é que era. A rapaziada chegava e escolhia uma revista de carros enquanto criticava os últimos comentários do treinador adjunto do Marítimo. O barbeiro, profissional já batido na arte corte, nem precisa de olhar para o que está a fazer. Reclama do jogo de Domingo, acha que os carros de hoje são umas latas que não duram nada mas que um BMW é que era, e remata que para uma bela queca não há nada como tentar em África e que sabe muito bem pois no ultramar era como se safavam. Calamo-nos e interiorizamos os conselhos, enquanto folheamos as páginas do record de há 3 meses atrás. Chegam outros clientes, adeptos fervorosos de clubes adversários, que o provocam com os resultados da liga, mas a discussão atenua quando passam as pernas da esteticista do estabelecimento 2 portas abaixo.

Chega a nossa vez. Orgulhosamente pedimos "o costume", e mesmo que ele não se lembre do que raios é o costume, também não dá parte fraca… faz o corte tradicional (um dos quatro cortes que sabe fazer) e já está. Entra um jovem que pede "um corte ligeiro, só aparar pois é para deixar crescer" e a camaradagem reina ao o som das engrenagens da máquina de cortar a roçarem no pente dois. "Pronto, até estás mais leve. Assim é que é, à homem".

Hoje em dia arriscamo-nos a cortar o cabelo num centro comercial, sentados virados para a montra que dá para as caixas do supermercado, e com as mãos de uma bichona a roçarem-nos o couro cabeludo, não se cansando de repetir que o que ficava a matar era umas madeixas bem loucas. E que já agora devíamos mudar de shampô para um menos abrasivo, que respeite o couro cabeludo como um todo (ainda hoje estou para perceber o que é que os gajos querem dizer com isto). À mínima tentativa de conversa de macho (estilo, "aquela sua colega é bem jeitosa"), começa com um rol de choradilhos sobre a sua vida que está uma miséria, e que tem muito talento mas ninguém o compreende, e os doutores têm a mania que sabem muito mas não sabem nada.

Irra, deviam incluir no almanque Borda d’Água um compêndio de moradas de barbeiros à moda antiga, para salvar os incautos citadinos. Rapaziada, mandem as moradas de barbeiros que conhecem para colocarmos nós próprios essa lista aqui na Fátima.

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