segunda-feira, 17 de novembro de 2003

A empregada de escritório versão 1920

Tenho tido a curiosidade histórica de trabalhar ocasionalmente com uma senhora que parece saída de um filme do tempo do cinema mudo.

A senhora ronda os 45 anos. É empregada de escritório. Tem um cabelo loiro violentamente oxigenado, e perfeitamente firme à força de descargas diárias de laca. Por muito que ela abane a cabeça, nem um cabelo sai do sítio. Os olhos, sempre esbugalhados e sublinhados à bruta com um tom de lápis-lazuli, dão-lhe um ar de múmia egípcia.

A roupa, só aparentemente foi retirada do baú das traças da mãe dela. Tenho a certeza que foi comprada na Baixa lisboeta, numa das 2 ou 3 lojas que ainda vendem as sobras da liquidação total dos Armazéns Grandella, do ano 1940. Só a imagino a entrar na loja, e o dono, seguramente velhote, a ensaiar uns passos de Charleston por ver uma das suas 17 clientes a entrar pela porta.

Sobre o perfume, hesito. Não sei se é perfume se é a naftalina da roupa. Se for naftalina, não será muito forte. De qualquer modo, o cheiro da carga de laca abafa os outros odores.

De onde saem estas pessoas?! Onde vivem? O que pensam?

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