segunda-feira, 9 de fevereiro de 2004

Consulta Médica

Como toda a gente sabe, de acordo com a lei da Internet, quem escreve para blogs tem que realizar regularmente exames de medicina. O Quarto Segredo não é excepção, e este pastorinho teve que se submeter aos exames típicos deste proceso.

Tudo começou na sala de espera. Ao entrar, somos analisados pelos diversos “pacientes” que ali esperam a sua hora de contar os seus problemas ao Doutor. Fui mirado de alto a baixo por diversas octagenárias, e estou certo que saíram dali alguns diagnósticos bem aterradores. Começam então os exames:

Oftalmologia – Uma verdadeira brasa, é o adjectivo que qualifica a Doutora (por motivos de anonimato iremos doravante chamar-lhe de Dr.ª Pussy). A Dr.ª Pussy lança-nos um sorriso autoritário (mulheres de bata intimidam-me) ao qual respondo com um ligeiro levantamento do canto direito do lábio. Logo no início falho o teste de ler as letras gordas só naquela de meter conversa. A Dr.ª Pussy olha-nos com uma expressão mística, como quem pensa se somos cegos como um morcego ou pura e simplesmente analfabetos. Martirizado pelo erro de escolha de abordagem, passo para a consulta seguinte.

Clínica Geral – Detesto esta parte. Por natural fobia a tudo que envolva médicos/hospitais, sinto sempre que o médico me está a esconder qualquer coisa. Um rápido cumprimento com um aperto de mão fez-me pensar que o médico desconfiou de algo relativo à minha saúde. O aperto de mão não foi rápido nem lento, fraco nem forte, o que certamente indica que ele descobriu algo nos meus músculos. Mau começo. Fez-me as perguntas de rotina, e cada vez mais senti que o meu prognóstico era dos piores. Quando me perguntou “Fuma?”, ao que respondi “Não”, o ligeiro afastamento da sobrancelha esquerda dissimulado como se fosse um tique (sim, a mim não me engana ele), revelou o seu pensamento de “então como é que explica o cancro no pulmão que identifiquei só por analisar o modo como se sentou”. Outras perguntas se seguiram, e todas elas anteveram conclusões macabras que ele não me iria revelar. Quando ele me disse “pode ir, está tudo bem consigo” senti claramente que ele me estava a dizer “por acaso não está interessado no nosso programa de doação de órgãos para fins científicos”. Aquele não me enganou.

Amostra de Sangue – Entramos com ar de Rambo decididos a mostrar que sangue faz parte do nosso dia-a-dia. Após cinco minutos acordamos com as bofetadas do enfermeiro, com a bata coberta de sangue e com uma seringa na mão a dizer esbaforido que desmaiámos. Parvo, não percebe que efectivamente não desmaiámos e apenas estávamos a praticar uma técnica Zen de relaxamento da veia para libertar melhor o sangue, sim, porque após ter retirado uma amostra de sete litros de sangue não há organismo que resista. Fui directamente enviado para a pastelaria mais próxima, para recuperar o açúcar perdido neste processo cerimonial.

E assim foi. Saí de lá com a sensação que quem está bem são os índios das tribos da amazónia, que levam umas cabras ao pajé da aldeia, fazem-se umas rezas, receita-se uns unguentos e já está. Hoje em dia não se o que é pior, meia hora na "Passagem do Terror" da ex-Feira Popular ou meia hora numa clínica médica.

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