terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

Manual de procedimentos – Como passar o tempo no trânsito

Quem tem o azar de viver em grandes cidades já se habituou a passar parte dos seus dias enclausurado em bichas (e não é em experiências homossexuais sado-maso, é mesmo no trânsito) sem saber muito bem o que fazer. Uma vez que, contabilizadas ao fim do ano, as horas gastas neste mal necessário dão resultados assustadores, no âmbito da vertente de utilidade pública do Quarto Segredo, vimos aqui fazer com base numa amostragem bastante considerável recolhida esta manhã, um compêndio de actividades possíveis:
- Dançar freneticamente – O espécimen feminino que conduzia um Lancia Y10 fez do seu carro uma verdadeira pista de dança. Agitava-se, bamboleava-se, cantava e punha em prática as suas melhores coreografias possíveis num habitáculo. Chegou quase, e vejam bem a loucura, a esticar dois braços em simultâneo, o que num Y10 é obra. Nem o facto de eu estar com um ar estupefacto a olhar para ela a demoveu de executar os seus passos (neste caso, abananços) mais famosos.
- Olhar vegetativamente para o prédio ao lado – é uma tarefa difícil e que consiste em, com um ar de repolho anafado©, fixar uma janela ou uma porta num prédio ao lado do veículo. Esta performance é famosa pelo seu carácter relaxante e hipnótico, não só para o praticante como para as pessoas que lhe estão próximas. Quem nunca deu por sim a olhar fixamente para o caramelo do lado, que por sua vez está com ar de parvo a olhar para o prédio oposto?
- Proceder a uma limpeza minuciosa do nariz – Muitas vezes olhamos para o veículo do lado e deparamo-nos com o fabuloso espectáculo do misterioso desaparecimento do dedo indicador. Assim que nos damos conta que tem que claramente ser um truque, reparamos que na realidade o artista está esconder o indicador numa das narinas e, num brilhante movimento feérico (como eu gosto desta palavra), saca de dentro do nariz um valente gorila. Para praticar este truque mágico é necessário alguma destreza, pelo que os passos seguintes devem ser seguidos:
1 – Escolher um dos indicadores disponíveis, de preferência o que tiver a unha maior (nota: existe a versão romena deste acto que é realizada com o polegar, sendo no entanto mais limitativa);
2 – Introduzir o dedo numa narina e rodá-lo por todo o perímetro;
3 – Assim que se identificar uma das presas, agarrá-la com a unha e puxar a mesma para fora, tal qual molar num dentista;
4 – Olhar para ela no dedo, admirá-la, senti-la, e se for caso disso sentir-se orgulhoso do resultado;
5 – Para finalizar, e é o momento em que se ouve os tambores a rufar, dar um fim ao produto retirado. Alguns preferem abrir o vidro e dar-lhe liberdade, outros preferem comê-los (bbbblllllaaarrrrrgghghhhh), e outros colocam a mão para baixo e fazem-nos desaparecer (uma vez que não quero acreditar que os mandam para o tapete ou os limpam no assento, vou acreditar que na realidade têm um saquinho que é despejado quando estiver cheio).
- Apitar nos semáforos – é sem dúvida a prática mais entusiasmante, e consiste em apitar sempre que um semáforo ficar verde, mesmo que não seja o da faixa onde se encontra o condutor. Como adição ao divertimento, ao buzinar pode-se olhar para trás ou para os lados, incriminando assim uma série de gente e criando uma rede de ódios no meio do trânsito. Do mais divertido que existe.
- Ler o jornal – Sim, hoje vinha um senhor a conduzir e a ler o jornal. Medo, muito medo…

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