quarta-feira, 29 de outubro de 2003

Táxi

Chamei um táxi. Desço as escadas aparentando algum nervosismo, pois faltavam 40 minutos para o meu vôo. O taxista, com ares de membro efectivo da Al-Qaeda com um forte grau de miopia misturado com estrabismo, cedo compreendeu o meu ar inconfortável. Como qualquer membro da Al-Qaeda faria, resolveu ajudar-me e garantir que eu apanhava o meu avião, tentando simultaneamente bater o seu record pessoal no trajecto Sta. Apolónia – Aeroporto.

Arranca a marcha. Primeira, segunda, terceira, segunda e apita à senhora que se apresenta pelo lado direito. Corta bruscamente tal qual Schumacher na chicane de Monza, razando o polícia sinaleiro que se encontra ao pé da ponte. Este, depois do susto, volta a entrar na tasca para tomar mais uma dose da sua "pomada" matinal.

A recta até à zona dos camiões TIR é feita num ápice, sendo que estes são ultrapassados com carros na faixa contrária (irmãos Wachowski abram os olhos… este taxista pitosga ficava a matar no Matrix… literalmente a matar). As rotundas são feitas em slide, com apitadelas para os condutores rapidamente apelidados de "ceguetas" (vindo da boca deste taxista em particular foi delirante) e "desrespeitadores de quem trabalha".

Os semáforos foram alegadamente passados no amarelo mas eu cá não vi outra côr que não o vermelho – "Oh Dr., isto do amarelo é para a gente acelerar que já temos vermelhos suficientes a parar o país" (não sei se ele se referiu ao Partido Comunista se ao Benfica. No que toca a taxistas nunca sabemos bem a qual a sua onda). A rotunda do relógio lembrou-me a saudosa parabólica do autódromo do estoril, tal qual saída para a recta da meta, e a entrada do aeroporto pareceu uma entrada na box para mudar de pneus.

Paguei ao senhor e apanhei o meu vôo a horas. A cara de orgulho dele mereceu a gorjeta.

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