quinta-feira, 14 de agosto de 2003

Vamos à feira

Aquando dos meus tempos de gaiato, era frequentador assíduo da feira de S. Bernardo, uma feira que ocorre em Agosto numa localidade na zona centro de Portugal. Antigamente, e provavelmente porque não tinhamos tanta coisa acessível como temos hoje, aquela feira parecia-me um dos eventos do ano (logo a seguir às férias, prendas de Natal e filmes na RTP2 com bolinha no canto superior direito). Hoje, olho para a feira e sinto-me como um condenado de Shawshank a lutar pela vida, no meio de pó e pedras e de prisioneiros mal encarados.

Há de tudo na feira de S. Bernardo. À entrada temos a boulevard cigana, com as suas vendas de roupas com um stock de fazer inveja ao Tommy Hilfiger e variedades com que a Lacoste nunca sonhou. Passamos pela 5th avenue dos carros de choque, local destinado a flirt das babes das aldeias dos arredores, e dirigimo-nos à Manhattan das farturas e dos reis dos frangos (começo a achar monarcas a mais para os súbditos galinácios). Terminamos na Broadway improvisada, representada por um palco que apresenta artistas consagrados, desde a Mónica Sintra, Graciano Saga, Iran Costa, Anjos e as Taity (se bem que estas últimas possuem argumentos convincentes para levar massas a aplaudir). Como cheiros, podemos caracterizar a feira de S. Bernardo pelo seu cheiro a sovaco cristalizado (com estalactites de suor pendentes dos pelos sovacais dos visitates) e a chulé condensado (estilo leite condensado, mas com o cheiro intenso a pés suados e menos cremoso). Um ou outro aroma mais refinado a óleo de fartura ou gordura de frango dão o toque de requinte, enquanto que se nota (embora raramente) um ou outro personagem mais audaz que coloca o seu perfume marca Intermarché.

A semana passada, tive o previlégio de visitar uma feira em tudo semelhante, mas situada numa conhecida cidade Suiça. Como diferenças quero salientar os cheiros, que ao invés do trago de sovaco cristalizado sente-se fortemente um cheiro a incenso suorizado. Julgo que os 70% de árabes que estavam na feira devem usar incenso como desodorizante, que digo-vos meus caros, mete o chulé condensado a um canto. Nada de roupas (os tipos compram tudo mesmo nas lojas da Lacoste e Tommy Hilfiger) e caipirinhas a 12€ marcavam presença.

Viva S. Bernardo, que tem copos de cerveja e vinho a 1€.

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